24 de jan. de 2009

Remédios que brotam da terra



Matéria divulgada em: 23/01/2009
Pelo Globo Repórter.






Reportagem: Ismar Madeira (São João del Rei, MG)

Quem vê o trabalho da artesã Geralda Chaves não imagina que tudo que ela faz já foi contraindicado por médicos para ela. Dona Geralda sofreu com alergias e outras complicações. "Foram 38 anos de bronquite e infecção urinária, sem parar. Tomava antibiótico e cortisona", lembra.











Mas agora é diferente. "Nunca mais tomei antibiótico, cortisona nem remédio de bronquite. Não tenho mais bronquite", diz dona Geralda, que sentiu a melhora depois dos escalda-pés, massagens e remédios à base de ervas.

"Para cada paciente é uma receita. Não é tudo igual para todo mundo", conta a técnica de enfermagem Clara Maria de Carvalho.

É a medicina antroposófica, uma novidade no Sistema Único de Saúde (SUS) encontrada em São João del Rei, no interior de Minas Gerais. Em meio às lembranças de um passado rico e cheio de histórias, uma clínica na periferia da cidade oferece os tratamentos, que parecem do tempo da vovó. E é cada vez maior o número de pessoas que vão procurar ajuda. A técnica em enfermagem Simone Batista leva o pequeno João Gabriel. "Ele tem muita cólica", conta.

Da recepção, eles seguem direto para a cozinha. No local, o médico antroposófico Paulo Maurício Vieira ensina a receita para aliviar as dores do bebê. "Você enche um travesseirinho com macela e guarda em um saco plástico, para não perder o cheiro. Se perder o cheiro, tem que trocar a macela. Tem que ficar no plástico, sempre guardadinho em um saquinho. Quando ele estiver com dor, você esquenta o travesseirinho com macela em uma bolsa de água quente e coloca na barriguinha. Fica quentinho. Esse procedimento alivia bem a cólica e pode ser feito várias vezes. Quando esfriar, você coloca de novo na barriguinha", orienta o médico, que também dá um remédio natural, feito de camomila, nicotiana e beladona.

"Eu vim porque ele aliviou a dor do neném da minha amiga", conta Simone.

O remédio pode estar onde nem se imagina: no ar, na água, na terra. A medicina antroposófica usa vários elementos e técnicas naturais. Parte da filosofia de que a ligação entre homem e natureza está em todos os elementos, mas é preciso conhecimento para saber aplicá-los com bons resultados.

Geriatra e especialista em saúde da família, doutor Paulo Maurício estuda a antroposofia há dez anos. E diz que as diferenças começam na consulta do médico. "Primeiro, ele observa a pessoa: o gestual quando ela chega, a vitalidade dela. Depois, observa como essa pessoa se expressa. Depois, ele quer saber da vida desse indivíduo, como ele está inserido dentro da própria família, da comunidade, seus desejos", explica. Para ele, é como examinar o corpo e a alma do paciente.

O ajudante de pedreiro Domingos Sávio Pereira tem uma hérnia de disco e uma artrose na coluna.

"Parece que sua coluna está bem afetada pelo esforço que você faz no trabalho. Isso justifica a dor que você está sentindo", constata doutor Paulo Maurício.

O ajudante de pedreiro chegou a perder vários dias de trabalho. "Eu tinha muita dor na coluna, nas costas e nas pernas. Não conseguia trabalhar", lembra seu Domingos.

O remédio para ele foi cavado à enxada. É argila, levada para a clínica de carrocinha, com todo o cuidado. A receita é elaborada, temperada com ervas. Depois, é montado um emplastro sobre uma gaze, que precisa ser aquecida no vapor.

"Depois, é retirada e colocada onde a pessoa estiver sentindo dor. É um antiinflamatório porque contém arnica. A argila por si só já faz efeito, mas a arnica e a erva-de-são-joão ajudam a aliviar a dor. A aplicação é feita duas vezes por semana", explica a agente de saúde Neide Santos.

"Agora ando para todo lado, trabalho. Melhorei muito", diz seu Domingos.

Dona Geralda também experimentou argila para aliviar dores no braço e nas cicatrizes de cirurgias no abdômen. "Não tem nada doendo. Melhorou 200%", afirma a artesã.

O médico ainda receitou medicamentos antroposóficos, fórmulas similares às da homeopatia.

"Não elimina a medicina tradicional de jeito nenhum. Ela é complementar à medicina alopática, com recursos naturais. Auxilia ampliando a visão do ser humano como ser terreno e espiritual", esclarece doutor Paulo Maurício.

Para dona Geralda, deu tão certo que ela já está há cinco anos sem tomar antibiótico. Bronquite e infecção urinária, que eram comuns, são fantasmas que não assombram mais. Como as lendas da cidade que ela borda em seus trabalhos. O artesanato, que antes era contraindicado porque os materiais provocavam alergia, agora é recomendado para baixar a ansiedade, outro mal que ela está vencendo.

"Foi um trabalho que espantou minhas assombrações", diz dona Geralda.

Brasil produz pela 1ª vez célula-tronco sem embrião

Matéria Publicada em: 24/01/2009
São Paulo - Cientistas cariocas produziram pela primeira vez no Brasil uma linhagem de células-tronco de pluripotência induzida. Conhecidas pela sigla iPS - "induced pluripotent stem cells", em inglês -, elas são idênticas às cobiçadas células-tronco embrionárias, com a vantagem de que não necessitam de embriões para sua obtenção.


A técnica, segundo o que os pesquisadores revelaram com exclusividade ao Estado, não reduz a importância do estudo das células embrionárias "autênticas", mas diminui a necessidade de destruir embriões para a produção de novas linhagens pluripotentes.


Em vez disso, a pluripotência (capacidade para se transformar em qualquer tecido do organismo) é induzida "artificialmente" em uma célula adulta, por meio da reprogramação de seu DNA.Além de facilitar imensamente a produção de células-tronco oriundas dos próprios pacientes, já que não há limite no número de células adultas que podem ser reprogramadas nem é preciso passar pelas complicações técnicas (e éticas) de fabricar ou clonar um embrião para pesquisa.


Apenas quatro outros países já possuem linhagens de células iPS registradas na literatura científica: Japão, Estados Unidos, China e Alemanha. A pesquisa brasileira produziu, simultaneamente, em menos de um ano, uma linhagem iPS de células humanas e outra de camundongo. Ambas serão disponibilizadas gratuitamente para a comunidade científica.


O projeto foi realizado nos laboratórios do neurocientista Stevens Rehen, do Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e do biomédico Martin Bonamino, da Divisão de Medicina Experimental do Instituto Nacional de Câncer (Inca), com apoio dos alunos de pós-graduação Bruna Paulsen e Leonardo Chicaybam. A parceria começou em 2008, depois que Rehen deu uma palestra no Inca. Foi o casamento perfeito: "O Stevens sabia cultivar as células-tronco e a gente sabia produzir os vetores virais para infectar as células", conta Bonamino. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo. 

Fonte: http://noticias.uol.com.br/ultnot/agencia/2009/01/24/ult4469u36472.jhtm

EUA aprovam teste em humanos com células-tronco de embriões

Matéria Publicada em: 23/01/2009

A FDA (sigla em inglês para Food and Drug Administration), agência reguladora da fabricação e comercialização de medicamentos e alimentos nos Estados Unidos, autorizou uma empresa da Califórnia a realizar o primeiro testes em humanos com células-tronco retiradas de embriões também humanos. Em anúncio feito nesta sexta-feira pela própria empresa, a Geron Corporation diz que os testes devem começar ainda no verão deste ano no Hemisfério Norte. Os cientistas vão aplicar as células-tronco para tratar voluntários que sofreram danos graves na medula espinhal.
Os testes devem utilizar células-tronco de embriões humanos autorizadas para uso em pesquisas em agosto de 2001 pelo então presidente George W. Bush. Elas haviam sido retiradas de embriões descartados por clínicas de fertilização e já estavam disponíveis na época da autorização. SegurançaInicialmente, a pesquisa da Geron Corporation vai verificar se é seguro injetar células-tronco nos pacientes. Ao mesmo tempo, os cientistas também vão procurar por sinais de recuperação. Dos dez voluntários, oito estão completamente paralisados.
Todos serão monitorados durante um ano para ver se recuperam algum movimento abaixo do ponto onde sofreram o dano. Células-tronco são estruturas não especializadas encontradas em embriões com quatro a cinco dias de idade. Elas têm a habilidade de se desenvolver em qualquer outra célula do organismo e por isso são consideradas fundamentais em tratamentos de doenças degenerativas ou de acidentes com danos permanentes.
Para o estudo, os cientistas desenvolveram, a partir das células-tronco, células chamadas de oligodentrócitas, precursoras de células nervosas. Thomas Okarma, presidente da Geron Corporation, disse ao canal de televisão americano CNN que a empresa não vai usar recursos federais para a pesquisa.

Fonte: http://cienciaesaude.uol.com.br/ultnot/bbc/2009/01/23/ult4432u1985.jhtm

16 de jan. de 2009

Novidades da medicina que devem chegar ao país em 2009

Matéria Publicada em: Jan/2009
A medicina também traz promessas para o novo ano: há previsão de chegada de medicamentos mais específicos e com menos efeitos colaterais para o tratamento de esclerose múltipla e de arritmias cardíacas --além de um exame que permite saber como cada paciente metabolizará determinado remédio.
Equipamentos de laser mais precisos para tratar problemas de visão devem chegar ao país, além de um outro que diminui o crescimento benigno da próstata de forma menos invasiva.
A estética também é contemplada entre as novidades: um novo preenchedor visa aumentar seios e nádegas sem necessidade de cirurgia, e novos componentes naturais, como grãos de café, girassol e cogumelos, surgem para diminuir a vermelhidão da pele e estimular a reprodução celular cutânea.
Vale lembrar, no entanto, que muitos problemas de saúde podem ser evitados com medidas simples e já conhecidas. Parar de fumar, adotar uma dieta equilibrada e praticar exercícios físicos são as três orientações mais certeiras. 

Precisão na Córnea
O equipamento de laser Femtosecond ganha atualização que resultará em uma maior precisão no corte da córnea, dividindo-a em camadas. Hoje, uma córnea doada pode beneficiar apenas uma pessoa. Com o equipamento, será possível beneficiar duas pessoas, que receberão camadas diferentes. Assim, quem tiver saliência da córnea, por exemplo, pode receber só a camada anterior. E um paciente com distrofia endotelial pode receber a parte posterior. A novidade também permitirá uma melhor recuperação do transplante.
Laser na retina
O Instituto da Visão da Unifesp receberá o primeiro laser de Pascal do país, um fotocoagulador a laser indicado para tratar retinopatia diabética, degeneração macular relacionada à idade, doenças vasculares e oclusivas da retina, glaucoma, entre outros problemas. O processo aumenta a precisão, a segurança e a eficiência dos procedimentos e diminui riscos.
Mais tempo para tratar AVC
Está previsto um aumento na janela de tratamento de acidente vascular cerebral: será possível tratar o paciente com remédios até quatro horas e meia depois do derrame. Até então, o paciente só poderia ser tratado com medicamentos que dissolvem o coágulo até três horas depois do acidente. Um estudo europeu provou que é possível realizar o procedimento mais tarde sem prejuízo à saúde. Isso facilitará o tratamento, porque o procedimento seguinte -a trombólise intra-arterial- é mais complexo e depende de estrutura e profissionais dos quais nem todo centro médico dispõe.
Pílula contra esclerose
O fingolimod é a primeira droga para tratar a esclerose múltipla em forma de comprimido. Hoje, portadores da doença ingerem medicamentos que não foram desenvolvidos especificamente para esse problema ou usam as opções endovenosas, que podem ser desconfortáveis.
Dose individual
Um novo exame de sangue pode identificar como o corpo de cada paciente metaboliza determinados remédios. A vantagem é adequar a quantidade de medicamento às necessidades individuais -embora a maioria das pessoas tenha um metabolismo adaptado às doses-padrão, algumas metabolizam as drogas mais rapidamente e outras o fazem de maneira mais lenta. Esse tipo de avaliação é possível por meio da medição do citocromo P-450, uma família de enzimas responsável pela metabolização de fármacos como antidepressivos, antiepilépticos, antipsicóticos e betabloqueadores.
Telemedicina em ambulâncias
Está prevista para este mês a execução de um projeto piloto firmado entre o HCor (Hospital do Coração) e o Ministério da Saúde para o uso de telemedicina nas ambulâncias do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Os veículos serão equipados com eletrocardiograma, telefone celular e computador para que, no caso de uma emergência cardíaca, a equipe possa transmitir os dados para especialistas de plantão do HCor. A meta é melhorar a assistência oferecida a pacientes que estejam em locais remotos ou que não tenham acesso fácil a um cardiologista.
Droga contra arritmias
Um novo remédio promete amenizar os efeitos colaterais decorrentes do tratamento de arritmias cardíacas. As drogas atuais podem causar problemas gastrointestinais e mesmo levar ao surgimento de novas arritmias. A drodenadora tem a mesma eficácia, mas parece trazer menos desconforto.
Fim da patente
Neste ano, expira a patente do Xenical (orlistate), medicamento usado para perda de peso que custa cerca de R$ 300 a caixa, com doses suficientes para quatro a seis semanas. Com isso, será possível encontrar similares e genéricos a preços reduzidos, estimam os especialistas, e mais pacientes poderão ter acesso a esse remédio. A principal vantagem desse medicamento é seu efeito metabólico geral, com benefícios que vão além da perda de peso, como a diminuição das taxas de colesterol.
Preenchedor corporal
Deve chegar ao mercado ainda no primeiro trimestre do ano um preenchedor em gel de ácido hialurônico para aumento de grandes áreas corporais, como seios, nádegas, panturrilhas e peitoral dos homens. Além disso, o produto poderá ser usado para preencher sulcos e cicatrizes em todo o corpo -até o momento, a substância é usada para suavizar sulcos, rugas e cicatrizes no rosto. O ácido, quando aplicado sob a pele, provoca uma reação do próprio organismo, que o envolve com fibroses naturais, criando um volume ao redor da área. O efeito, dizem os médicos, dura até dois anos. O produto é contraindicado para portadores de doenças autoimunes como lúpus e vitiligo e para gestantes. O procedimento deverá ser realizado somente por médicos.
Cosméticos naturais
Novos ingredientes devem tirar um pouco o foco do chá verde nas prateleiras de cosméticos. A previsão é que os grãos de café, o girassol e cogumelos sejam cada vez mais frequentes na composição de cremes e outros produtos para a pele, pois estudos apontam que essas substâncias têm uma forte ação anti-inflamatória. O café e o girassol, especificamente, têm sido associados a uma melhora na pele de pessoas que têm eritema (rubor). Já o cogumelo entra em cena porque uma substância antioxidante encontrada no fungo parece ser capaz de acelerar a multiplicação celular da epiderme. Em média, trocamos de pele a cada 20 dias. Mas esse ritmo diminui com a idade -especialmente quando as mulheres se aproximam da menopausa. O produto melhoraria a renovação celular de mulheres dessa faixa etária.
Laser para próstata
O Green Laser é um tipo de laser indicado para tratar casos de crescimento benigno da próstata -problema que atinge cerca de 85% dos homens e piora a qualidade de vida do paciente, que passa a ter dificuldade para urinar. O laser é aplicado na região e "dissolve" o tecido que cresceu em excesso, diminuindo a próstata. Será mais uma alternativa aos tratamentos existentes. O aparelho já foi adquirido pelo Hospital Alemão Oswaldo Cruz. O Hospital das Clínicas de São Paulo prevê a aquisição para o segundo semestre deste ano.
Tumor à distância
O Hifu (sigla em inglês para ultrassom focal de alta intensidade) é um aparelho que permite destruir tumores à distância por meio de ultrassom. Já é usado para tratar tumores da próstata e tem se mostrado eficiente no tratamento de câncer do rim, sendo usado atualmente sob licença nos EUA. Será indicado para tratar tumores iniciais e pequenos.

15 de jan. de 2009

Remédio Antigo, uso novo

Matéria publicada em: janeiro/2009




Eritropoetina (EPO):
Injeções de EPO são prescritas para tratar anemia e comprovadamente melhoram a função cerebral de pessoas com Esquizofrenia e Esclerose Múltipla.
Um estudo com camundongos sugere que ela consegue melhorar o desempenho até de cérebros normais graças à influência nos neurônios e não por curar a anemia.

Rebeprazol e Donezepil:
Em testes de laboratório, pesquisadores descobriram que o Rabeprazol (prescrito para úlceras pépticas) é bom para pacientes com depressão, enxaqueca e doença de Parkinson, enquanto o Donezepil (prescrito para doença de Alzheimer) pode aliviar a depressão.
Fonte: Revista Seleções - Edição Janeiro/2009


Informações Complementares:
A Eritropoetina Humana Recombinante Injetável (EPO) é utilizada como estimulante da eritropoiese, sendo portanto um produto antianêmico indicada para tratamento de anemia em pacientes com insuficiência renal e que se submetem ao regime de diálises. Também é indicada no tratamento de anemia associado ao câncer e utilização de quimioterápicos (nefrotóxicos ou mielossupressor), anemia em portador de AIDS submetido ao AZT, em procedimentos pré e perioperatórios, em doenças crônico-degenerativas (artrite-reumatóide).

6 de jan. de 2009

'Turistas de células-tronco' viajam por tratamento

Matéria veiculada em: 30/12/2008




Quando Robert Ramirez foi diagnosticado com a doença de Parkinson em 2006, seu médico lhe deu os remédios, mas pouca esperança: "ele me disse que não havia muito a se fazer exceto esperar a 'passagem para o outro lado.'"Ramirez, mecânico peruano-americano do norte de Nova Jersey, acompanhou desamparado seus sintomas piorarem. Seu braço esquerdo ficou cada vez mais fraco. Os músculos da perna se enrijeceram. Seu tremor se intensificou. Foi quando sua esposa, Elvira, viu Jorge Tuma em um noticiário peruano.

O médico peruano, em Lima, afirmou que tratava Parkinson e outras doenças com injeções de células-tronco. Eles verificaram em seu site: por US$ 6 mil, conseguiriam um tratamento. Reservaram um vôo para Lima.

Ramirez faz parte de um número crescente de pacientes que buscam terapias com células-tronco fora dos Estados Unidos - especialistas estimam que sejam milhares. E Tuma é mais um entre dezenas de médicos não-americanos a oferecer esse tratamento. A tendência se tornou significante o bastante para que a Sociedade Internacional de Pesquisa em Células-Tronco (ISSCR) publicasse recentemente diretrizes para médicos e aspirantes a "turistas das células-tronco."Especialistas americanos temem que haja médicos tratando imprudentemente pacientes sem esperar por ensaios clínicos que garantam a segurança dos procedimentos."Há muitos médicos se aproveitando do senso comum a respeito do potencial de cura das células-tronco em países com regulação médica mais frouxa," disse Sean Morrison, diretor do Centro de Biologia de Células-Tronco da Universidade de Michigan e tesoureiro da ISSCR. "Mas os detalhes do tratamento com células-tronco são muito mais complicados."Entretanto, as terapias com células-tronco estão se tornando uma área lucrativa do turismo médico, apesar da ciência ainda precisar revelar seu potencial e das controvérsias ainda infestarem o campo.

Essas células, encontradas em embriões e em certos tecidos adultos, têm o potencial de se desenvolver em diferentes tipos de células. Mas as questões éticas quanto ao uso de embriões como fontes de células-tronco diminuíram o ritmo das pesquisas em países como EUA e Reino Unido. Pesquisadores nos EUA conduzem ensaios clínicos para tratamentos tanto com células adultas quanto embrionárias, mas o órgão americano responsável pela regulação médica, o FDA, ainda precisa licenciar qualquer tratamento.

As novas diretrizes da ISSCR requerem que todo tratamento seja avaliado por especialistas sem qualquer interesse especial no procedimento. O guia também defende um processo consentido, no qual os pacientes teriam informações completas sobre o tratamento e transparência nos relatórios de resultados dos ensaios clínicos.O manual para pacientes do ISSCR alerta sobre tratamentos experimentais com células-tronco - aqueles que não fazem parte de nenhum ensaio clínico oficial. Ele também alerta para sinais de tratamento duvidoso, como a alegação de que múltiplas doenças podem ser tratadas com o mesmo tipo de célula.

Essa é apenas uma das várias afirmações otimistas usadas por médicos de vários países, geralmente em seus sites. Timothy Caulfield, do Instituto de Direito da Saúde da Universidade de Alberta, pesquisou 19 sites oferecendo tratamentos com células-tronco e divulgou seus resultados esta semana. Dez sites descreveram o tratamento como "pronto para o acesso público," ao invés de experimental. Muitas pessoas descobrem as ofertas de tratamento com células-tronco através de "publicidade direta ao consumidor" na Internet, ele disse."E existe um descompasso entre o que está sendo oferecido e o que a literatura científica existente diz,"afirmou Caulfield. "Aqueles que oferecem os tratamentos possibilitam a escolha entre duas coisas: o entusiasmo genuíno acerca das pesquisas com células-tronco e a controvérsia social em torno delas."

As clínicas cobram em média US$ 21,5 mil pelo tratamento com células-tronco, observou a pesquisa, mas as últimas notícias indicam que clínicas na China podem cobrar até US$ 70 mil.

Pesquisadores descobriram que tratamentos com células-tronco não-comprovados também podem causar complicações para os pacientes. Em 2006, o neurologista Bruce Dobkin, da Universidade da Califórnia, Los Angeles, descobriu que alguns pacientes haviam contraído meningite após operações para lesões crônicas na medula espinhal. Complicações no sistema nervoso e infecções também foram registradas após a utilização de células-tronco no tratamento de doenças do sangue.

Caulfield disse que nem todos os médicos oferecendo terapias com células-tronco são charlatões, mas acredita que qualquer um vendendo um tratamento deveria publicar dados que sustentem suas alegações."Ainda há barreiras científicas reais para essas pesquisas - mesmo os principais pesquisadores de células-tronco da Universidade de Stanford e no Reino Unido encontram dificuldades nos ensaios clínicos," disse Caulfield.

Nas trincheiras Tuma, o cardiologista procurado por Ramirez, com mal de Parkinson, promete restaurar órgãos e tecidos enfermos usando células-tronco adultas coletadas do próprio corpo do paciente.Desde 2005, Tuma já tratou cerca de 600 pacientes em torno de um quarto vindo de fora do Peru - com doenças como Parkinson, diabetes tipo 2 e enfisema. Seu método: injetar o órgão afetado com células-tronco da medula óssea do próprio paciente."Sempre digo a meus pacientes que isso não é uma cura, mas acredito que seja uma nova alternativa tremenda para melhorar a qualidade de vida," disse Tuma.

Ele operou Ramirez em outubro de 2007, em um procedimento simples que durou 45 minutos. Tuma extraiu e preparou as células da medula óssea da espinha de Ramirez e as injetou em uma artéria no cérebro. A partir daí, disse Tuma, elas começaram a gerar novas células que inibiriam o avanço da doença.Em uma semana, Ramirez disse que começou a notar que suas pernas estavam menos rígidas. Depois, seu braço esquerdo voltou a ter certa força. Ele se sente melhor que antes da operação e seus sintomas são menos identificáveis."Posso dançar com minha esposa e viver uma vida quase normal" disse Ramirez. "Sou muito grato ao doutor Tuma."Como muitos médicos oferecendo esses tratamentos, os procedimentos de Tuma não foram sancionados pelo governo de seu país. Apesar de ter publicado resultados menores de suas terapias cardíacas em revistas científicas, incluindo o Journal of Cardiac Failure and Cardiovascular Revascularization Medicine, ele ainda não publicou artigos sobre a eficácia de seus outros tratamentos.

De acordo com Insoo Hyun, professor de bioética da Universidade de Case Western Reserve e presidente da Força-Tarefa para Diretrizes em Células-Tronco da ISSCR, cobrar pacientes por tratamentos não-comprovados é considerado antiético."Ou você realiza pesquisas ou oferece uma terapia reconhecida, mas alguns desses médicos parecem querer fazer tudo ao mesmo tempo," disse Hyun.

Sem tempo a perderTimothy Henry, cardiologista do Instituto do Coração de Minneapolis/Hospital Abbott Northwestern, está autorizado pelo FDA a conduzir ensaios clínicos aleatórios com células-tronco adultas para doenças cardíacas. Ele já tratou 150 pessoas e disse que os dados preliminares são promissores. Mas os Estados Unidos têm ficado para trás na área devido às preocupações éticas levantadas sobre a pesquisa com células-tronco embrionárias, admite."A pesquisa com células-tronco adultas tem sido um desafio com a falta de informação e confusão a respeito das células embrionárias," disse Henry. Porém, pacientes desesperados como Ramirez estão relutantes em esperar provas concretas e a aprovação do FDA.Roberto Brenes é outro médico que realiza implantes de células-tronco adultas. Ele atrai pacientes até uma clínica em San José, Costa Rica, por meio do site cellmedicine.com.

Ele e seus colegas já trataram entre 50 e 70 pacientes com esclerose múltipla usando células-tronco retiradas do tecido adiposo, cobrando entre US$ 15 mil e US$ 25 mil, com "índices de sucesso muito bons," segundo Brenes.Embora Brenes reconheça que nunca houve ensaios clínicos demonstrando a eficácia da terapia para esclerose múltipla, ele disse que muitos pacientes não querem esperar."A área vai progredir muito nos próximos 10 a 15 anos, mas vários pacientes precisam de ajuda terapêutica agora e querem passar pelo procedimento," disse Brenes.Mesmo se isso significar custosas visitas de acompanhamento: Tuma recomendou que Ramirez voltasse a cada seis meses para acompanhar o seu progresso. E disse que se os sintomas da doença de Parkinson retornassem, outro procedimento seria necessário."Sei que a terapia não é uma cura completa, mas não a acho perigosa e faria novamente," disse Ramirez.Morrison, da ISSCR, entretanto, permanece cético.

"Vários pacientes vão gastar US$ 6 mil para comprar esperança, mas ainda assim não é certo vender poções milagrosas."



Traduções: Amy Traduções

Fonte: 

http://gazetaweb.globo.com/v2/noticias/texto_completo.php?c=166765

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Powered by Blogger