27 de ago. de 2009

Porto-alegrenses testam dificuldades de cegos e usuários de cadeiras de rodas


Matéria publicada em: 27/08/2009




Durante cerca de duas horas, em plena Praça da Alfândega, homens e mulheres foram convidados a experimentar as privações diárias impostas aos deficientes




Para saber o gosto de um chocolate, não basta ler a sua fórmula. É necessário provar. A partir desta premissa, simples e objetiva, Marcos Paulo Kuhn, cadeirante há seis anos, sugeriu proporcionar aos porto-alegrenses a possibilidade de se tornarem cegos ou usuários de cadeiras de roda por alguns minutos ou, ainda, comunicarem-se pela língua dos sinais.
O Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência aprovou a ideia, que mobilizou o centro de Porto Alegre ontem à tarde. Durante cerca de duas horas, em plena Praça da Alfândega, homens e mulheres foram convidados a experimentar as privações diárias impostas aos deficientes.

– Quem experimenta uma cadeira de rodas uma vez na vida tem ideia das dificuldades que enfrentamos todos os dias – diz o autor da ideia.

Acompanhada de um estudante, a acadêmica de Publicidade Kethiele Bonkevitca, 24 anos, preferiu outra experiência: sentiu as dificuldades da cegueira por exatos 15 minutos. Com os olhos vendados, a jovem caminhou da Praça da Alfândega até o Museu de Comunicação Hipólito José da Costa, na esquina da Caldas Júnior com a Rua da Praia. Uma experiência radical.

– Dá medo de caminhar porque você não sabe o que vai encontrar pela frente e acaba perdendo um pouco do equilíbrio – interpreta.

Em cerca de 50 metros de caminhada, a jovem bateu levemente a cabeça em um orelhão. Com exceção do esbarrão, porém, Kethiele demonstrou temor apenas ao ouvir o ronco de um carro-forte, que passou distante menos de dois metros da estudante.

Para Paulo Kroeff, doutor em psicologia e presidente do Conselho Estadual dos Direitos da Pessoa com Deficiência, que levou adiante a proposta de Kuhn, o objetivo da iniciativa é mostrar que pessoas com deficiências são cidadãos normais.


– Há barreiras arquitetônicas, comunicacionais, físicas, mas as principais barreiras são as barreiras de atitude – pondera Kroeff.

Kethiele Bonkevitca, 24 anos
Aluna de Publicidade experimentou as limitações da cegueira caminhando de olhos vendados



“Você não sabe o que vai encontrar pela frente e acaba perdendo um pouco do equilíbrio. Se estivesse sozinha, eu não saberia o que fazer.

Fico pensando nas dificuldades que as pessoas enfrentam em casa, por exemplo. Só neste trecho em que caminhei bati com a cabeça num orelhão. Imagino o que as pessoas enfrentam diariamente, em casa e na rua. Quando a gente se aproxima do meio-fio para atravessar a rua dá um medo... Se eu estivesse sozinha, ia ficar esperando até alguém me ajudar.”

Gabriel Amaro, 23 anos
Acadêmico de Psicologia transitou por cerca de 50 metros numa cadeira de rodas:



“É uma sensação muito estranha. As pessoas ficam olhando e você acha que elas vão ajudar mas, na verdade, estão com pena.

Como o piso é irregular, as rodas trancam e dá medo de cair. É preciso ter força nos braços para seguir adiante. Como obstáculos sempre vão existir, é preciso solidariedade das pessoas nas ruas. Se eu andei uns 50 metros e senti um monte de coisas, imagina quem enfrenta essas limitações todos os dias, na entrada de um banco, num ônibus, em casa, no cinema.”

Assista ao vídeo da matéria no link abaixo:


http://zerohora.clicrbs.com.br/zerohora/jsp/default.jsp?uf=1&local=1&section=Geral&newsID=a2632689.xml

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