4 de jul. de 2011

Com menos descobertas, laboratórios miram eficiência


Uma série de quebras de patentes no horizonte, que fará a indústria perder 267 bilhões de dólares até 2017, impulsiona o desenvolvimento de serviços.
Além de produzir remédios, as fabricantes terão que apostar em serviços

Especialistas estimam que, em 2016, novas terapias que utilizam de bioengenharia e produtos biológicos serão responsáveis por 23% do mercado

Tempos difíceis aproximam-se para a indústria farmacêutica. Nos próximos cinco anos, a validade de uma série de patentes vai expirar, o que fará com que as empresas percam nada menos que 267 bilhões de dólares em vendas até 2017. A busca por descobertas que gerem novas patentes continua. Contudo, inventar algo hoje é uma tarefa mais difícil que no passado, pois a própria medicina avança sobre campos cujo conhecimento científico também está em construção, como o estudo da nanotecnologia, células-tronco, etc. As novas tecnologias em estudo no setor são caras e provavelmente de difícil acesso às massas nos primeiros anos de existência. E não para por aí. Especialistas estimam que, em 2016, novas terapias que utilizam bioengenharia e produtos biológicos serão responsáveis por 23% do mercado. Muitas dessas “drogas do futuro” exigirão um sistema de distribuição mais complexo e, possivelmente, mais custoso que o convencional (veja quadro). A saída, apontam os especialistas, é investir em melhoria da eficiência e dedicar-se ainda a oferecer seviços que facilitem o acesso e o uso dos produtos.

O alerta para as mudanças foi feito por um estudo realizado pela consultoria PricewaterhouseCoopers (PwC) chamado “Pharma 2020: Supplying the future”, que traz previsões sobre como estará o mercado no referido ano, com foco especial na logística. “Muitas empresas investiram em tentar descobrir, desenvolver e comercializar medicamentos mais eficientes e injetaram poucos recursos na reconfiguração dos processos de fabricação e distribuição. Contudo, a cadeia de distribuição é tão importante quanto o resto. É o elo entre o laboratório e o mercado”, aponta o estudo.


Os remédios do futuro

Conheça os novos tipos de medicamento que revolucionarão a indústria farmacêutica nos próximos anos

Pílulas substituem a injeção

Nos próximos anos, a tendência é que o paciente possua cada vez mais autonomia em seu tratamento. As pílulas e comprimidos, tais como conhecemos, continuarão no mercado, mas ganharão novas funções. Empresas como a indiana Biocon e a dinamarquesa Novo Nordisk testam, separadamente, uma pílula capaz de prover insulina, usada no tratamento de diabetes. O objetivo é substituir a injeção. O grande desafio é evitar que a molécula do hormônio seja quebrada durante a digestão, anulando seu efeito. Por isso, as empresas desenvolvem uma nova categoria de cápsula que resiste ao ataque dos ácidos do corpo humano e, somente numa fase posterior da digestão, libera a insulina, já de forma segura.

A tecnologia de microprocessamento – em que ‘microcontainers’ carregam nanopartículas, que são elementos, no mínimo, oitenta vezes menores que a largura de um fio de cabelo – trará grandes avanços à personalização dos medicamentos. Especialistas apontam que no futuro, os farmacêuticos serão capazes de dosar e misturar os medicamentos conforme as necessidades de cada paciente. Dentro de uma só ‘superpílula’ poderá haver diversos ‘microcontainers’, que liberarão os princípios ativos em tempos diferentes. A holandesa Fagron já começou a pesquisar esta tendência.
Ainda não convivemos com androides, mas já existem estudos que trazem princípios da eletrônica ao corpo humano. Há, por exemplo, projetos de chips digestíveis que podem ser acoplados a comprimidos tradicionais. O objetivo é transmitir a computadores, smartphones ou outro equipamento informações da data e hora exatas em que o remédio foi absorvido pelo corpo. Os dados, conduzidos por rede sem fio, podem também ser enviados ao médico. A americana Proteus Biomedical tem o projeto das de fabricar o produto.

A engenharia transgênica é outra aposta para o futuro. Injetar genes em plantas ou animais para que produzam determinada proteína a ser usada em seres humanos será cada vez mais normal. A empresa GTC Biotherapeutics é uma das que está na vanguarda desta técnica e quer provar que ela pode ser comercialmente viável. A companhia já produz um remédio que atua em problemas de coagulação feito a partir de leite de cabra geneticamente modificada. Achou demais? As farmacêuticas preveem também um futuro com tratamento de células-tronco humanas para doenças como Alzheimer e Parkinson, também conhecido como medicina regenerativa.
Corte de custos e produção em massa continuam a ser elementos importantes para a indústria farmacêutica, em especial para aquelas que focam o suprimento de países em desenvolvimento. A Freeplay Energy, por exemplo, produziu um medidor de batimento cardíaco que funciona a partir de uma manivela que gera energia para o aparato. Cada um minuto girando a manivela corresponde a dez minutos de utilização do produto. A ideia é prevenir doenças em locais de baixa renda que não tem energia elétrica.










Uma das pioneiras neste amplo escopo de atuação é o laboratório francês Sanofi Aventis, cujas vendas em 2010 alcançaram 30,3 bilhões de euros. Além de deter medicamentos populares e que não necessitam de prescrição, como AAS, Dorflex e Colírio Moura Brasil, o grupo produz drogas que necessitam de prescrição médica; além de atuar em genéricos, com a marca Medley; vacinas, com o Sanofi Pasteur; e ainda no ramo animal, com os medicamentos Merial.
A necessidade de atuar em várias frentes surge do fato de que as demandas das farmacêuticas são crescentes. O setor é um dos poucos que se beneficia diretamente do fenômeno do envelhecimento da população global. Analistas de mercado creem que, no futuro, as empresas do ramo terão de investir mais em serviços. Os sistemas de entrega, por exemplo, terão de ser cada vez mais ágeis, com mecanismos para que o paciente receba a droga que precisa em casa, no menor tempo possível. Pacientes terão maior autonomia em seus tratamentos e é possível que, dependendo da doença, possam evitar a ida ao médico.

Devido à insuficiência do número de hospitais, consultas pela internet e acesso a medicamentos poderão se tornar ferramentas práticas. Para a indústria, informações sobre os pacientes e os medicamentos que ingerem se tornarão cada vez mais importantes. “As drogas do futuro serão mais eficientes. A cadeia, porém, exigirá mais integração entre indústria farmacêutica, de equipamentos, hospitais, planos de saúde e pacientes”, explicou Eliane Kihara, especialista da consultoria PwC. Há um longo caminho a ser percorrido até atingirmos este grau de eficiência.





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